FABULA :O MORCEGO NO BELICHE

 

O Morcego no Beliche

Adicione aos Favoritos!

Voltar para lista de artigos

 

O Morcego no Beliche

 

Mal estávamos nos encostando pelos cantos da casa depois de mais um fatigante dia de férias com muito sol e muita praia, quando ouvimos os gritos estridentes:

“ - Tem um morcego debaixo do meu beliche!”

Pois é... Aquelas foram talvez as mais divertidas férias de nossa adolescência.

Já havia acontecido de tudo. Desde a mais óbvia falta de dinheiro, até festa da pizza com música ao vivo para oitenta pessoas em uma sala de dez metros quadrados. Mas, morcegos? Caramba! Isto era realmente fora de rota.

Ainda que pesasse a nossa coragem típica da idade, expulsar um morcego de um apartamento era uma tarefa muito pouco confortável para qualquer um de nós.

Na sala havia, além de mim, o meu amigo José, dono do apartamento, e sua irmã Carla, a moçoila que havia acabado de nos alertar sobre aquela fera que estava alojada na parte inferior da cama de cima do beliche em que dormíamos.

Mesmo sem ver o bicho, a gente já imaginava, pela cara da Carla, que aquele deveria ser um monstro mesmo aterrorizante que provavelmente poderia sair mordendo todos e sugando nosso sangue sem dó nem piedade!

Mas, quando tudo parecia não ter solução, o meu amigo José, num surto repentino de bravura, puxou uma toalha molhada do banheiro e enfrentou o vampiro cara-a-cara!

Entrou de baixo do beliche, abraçou o morcego com a toalha sem pensar direito no que estava fazendo, e o levou cuidadosamente até a janela, deixando-o voar para bem longe de nossos olhos.

Ufa! Tranquilos, enfim...

Esta memória que tenho de minhas aventuras por volta dos dezoito anos de idade, na recém-reformada Praia Grande, em São Paulo, sempre me remete a situações que enfrentamos nas empresas, quando estamos resolvendo problemas difíceis em momentos inesperados.

Aquele morcego parecia um caso sem solução pelo simples fato de que ninguém jamais imaginaria que um mamífero voador entraria pela janela daquele apartamento, naquela noite. Isto não estava em nosso repertório pronto de respostas imediatas e soluções relâmpago.

Saber da existência de um morcego em nosso apartamento, para três garotos da cidade, foi tão non-sense quanto se alguém nos dissesse que o “Boto-Cor-de-Rosa-Choque” e a sereia “Aurora Brown” estariam sentados no jardim de inverno da pia da cozinha.

Pela falta de uma experiência anterior, jamais poderíamos imaginar se seríamos vitoriosos ou não, na busca por uma solução satisfatória.

Se alguém perguntasse ao meu amigo José qual foi a sensação que teve após solucionar o empecilho do morcego assassino, ele provavelmente descreveria a mais pulsante sensação de dever cumprido, e de poder.

Sim! E ele não seria o primeiro a sentir isto, não.

Cada vez que vencemos e transpomos novos desafios que surgem à nossa frente, nos sentimos fortes e realizados, ainda que a solução tenha sido apenas agarrar o problema com uma toalha molhada – ação que qualquer um de nós poderia ter feito, não fosse a mais pura falta de coragem para talvez errar.

Este sentimento exagerado de bem estar e esta consciência da força que temos quando nem esperávamos ter, nas mais simples vitórias diárias, é o que vicia os empreendedores e os torna eternos dependentes do prazer de superar os morcegos do dia-a-dia.

Afinal, não é este o melhor de ser o dono do próprio negócio? Quem sabe o que irá entrar pela janela amanhã?

Rico de Moraes

 DEVIDOS CRÉDITOS de AUTOR e FONTE, com um link ativo e bem visível, logo abaixo do texto, para a url: http://www.mgroupconsultores.com.br